LTER Ria de Aveiro
O que é?
A laguna, com cerca de 11.000 ha, resultou do recuo do mar e da posterior formação de cordões litorais passando a integrar o estuário do Rio Vouga, cuja bacia hidrográfica tem cerca de 3362 km2.
Trata-se de uma região socio-ecológica complexa integrada na Rede Natura 2000, que apresenta uma grande variedade de biótopos de elevada diversidade biológica, nomeadamente o plano de água da laguna, praias, pradarias marinhas “moliço”, sapais, lodaçais e bancos de areia, vegetação ripícola, dunas, lagoas naturais como a Pateira de São Jacinto e a Pateira de Fermentelos e por pequenas propriedades agrícolas ladeadas por sebes vivas (paisagem do tipo «Bocage»). A plataforma LTsER Ria de Aveiro compreende, assim, três domínios de ecossistemas aquáticos (dulçaquícola, águas de transição e águas marinhas costeiras), as interações e interdependências dos processos aquático-terrestres e os serviços prestados pelos ecossistemas.
Caracterização do local
O território abrangido pela plataforma LTsER Ria de Aveiro localiza-se maioritariamente na região biogeográfica mediterrânica, encontrando-se o extremo norte da laguna na região biogeográfica atlântica. O clima carateriza-se pela influência do oceano Atlântico, que confere atributos de temperado marítimo, e por fortes chuvas e temperaturas sazonais, com um período quente entre julho e setembro, e um período frio entre dezembro e fevereiro.

Porquê a Ria de Aveiro?
Valor natural e de conservação do local
Como parte integrante da Rede Natura 2000, a Ria de Aveiro é uma Zona de Proteção Especial (ZPE), incluí várias áreas classificadas como Sítios de Importância Comunitária (SIC), a Pateira de Fermentelos é classificada como sítio Ramsar e as Dunas de São Jacinto como reserva natural. Muitas espécies estão protegidas por convenções internacionais, tais como a Diretiva Aves e a Diretiva Habitats.
As zonas húmidas costeiras, quer dulçaquícola quer sob a influência da ação das marés, possuem valor natural de conservação pela biodiversidade associada e pelos serviços prestados, nomeadamente na regulação do clima, do ciclo hidrológico e dos ciclos biogeoquímicos, com destaque para o ciclo do carbono, designado de carbono azul, para além dos serviços de aprovisionamento e culturais. No caso da plataforma LTsER Ria de Aveiro, acresce o valor da conectividade entre os três domínios aquáticos, particularmente importante para a enguia europeia que é uma espécie com estatuto de proteção: em perigo.

Valor Socioeconómico
O território abrangido pela plataforma LTsER Ria de Aveiro inclui 10 municípios (Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Vagos), com uma população residente de 356 386 habitantes, de acordo com os dados preliminares do último censo (INE, 2021, https://www.ine.pt).
As principais atividades económicas pertencem aos setores industrial e de serviços. Contudo, para a população local, a agricultura e a pequena pesca, incluindo atividade de apanha de mariscos e de isco para a pesca e a aquacultura, constituem ainda recursos socioculturais economicamente importantes.
O capital natural do território LTsER Ria de Aveiro, a biodiversidade e a panóplia de serviços e bens prestados pelos ecossistemas, são essenciais para o bem-estar humano e para o desenvolvimento da região.
O contexto político e legislativo em que a Ria de Aveiro está inserida é complexo, possuindo uma elevada variedade de entidades e agentes envolvidos na sua governação.
Ameaças ao sistema
A Ria de Aveiro, como sistema lagunar, encontra-se num estado de conservação de razoável a bom. Contudo algumas medidas de gestão têm conduzido a alterações na ecohidrologia do sistema, das quais destacam-se o aumento prisma de maré, o aumento da velocidade da água e a resultante erosão das margens da laguna, o aumento da turbidez e a fragmentação de habitats, colocando sob ameaça as pradarias de Zostera noltei e os sapais de Spartina maritima e de Juncus maritimus, assim como os bens e serviços associados.
O incremento das pressões antropogénicas nas áreas costeiras, em particular as alterações climáticas e a presença espécies exóticas com comportamento invasor, constituem um desafio acrescido à gestão integrada da plataforma LTsER Ria de Aveiro, que requer uma abordagem transdisciplinar e adaptativa.
